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CONASA REALIZA CONFERÊNCIA COM GIANNETTI E GABEIRA PARA DISCUTIR “ÁGUA, DESENVOLVIMENTO E FUTURO”

CONASA REALIZA CONFERÊNCIA COM GIANNETTI E GABEIRA PARA DISCUTIR “ÁGUA, DESENVOLVIMENTO E FUTURO”

Evento marcou o Dia Mundial da Água e reuniu lideranças em Itapema/SC

Com a participação de cerca de 300 pessoas em dois dias de evento (22 e 23 de março), a 2ª Conferência Conasa potencializou a discussão sobre temas relevantes para o meio ambiente e para o desenvolvimento da economia brasileira e da saúde pública. O abastecimento de água e o saneamento básico universal estiveram no centro das temáticas abordadas pelos palestrantes, entre eles o economista Eduardo Giannetti e o jornalista Fernando Gabeira. As discussões foram coordenadas, cientificamente, pelo ex-secretário do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Paraná, Luiz Eduardo Cheida, e marcaram as comemorações em torno do Dia Mundial da Água.

Realizado pela Conasa Águas de Itapema, o evento foi aberto pelo prefeito municipal, Rodrigo Bolinha, que ressaltou a importância da Conferência na discussão de temas da maior relevância para o futuro das nações. “Temos trabalhado muito junto à Conasa para realizar os investimentos possíveis para trazer água de qualidade a todos. Mas, o sucesso das iniciativas também depende da consciência da população. Todos nós temos que nos comprometer com o futuro próximo para que não tenhamos problemas com a falta de água. Esta conferência reforça a importância deste bem tão valioso, que, se não cuidado, faltará para as próximas gerações”, ressaltou.

Também na abertura da Conferência, Luiz Eduardo Cheida ponderou sobre a água como o maior elemento da Terra que faz com que a vida exista. “Além disso, o avanço econômico depende da disponibilidade de níveis elevados de água potável. O percentual de 12% da água potável mundial está no Brasil, mas deste montante, 70% está na região Norte, onde habitam 3% da população. Este evento pede ações urgentes e conscientização de todos”, afirmou.

 

Incertezas

O economista Eduardo Giannetti enfatizou os momentos difíceis por que passa a sociedade brasileira atualmente, e considerou que o maior déficit civilizatório no Brasil está ligado à falta de dignidade para 45% da população que não dispõe dos serviços de coleta e tratamento de esgoto. “O nível educacional é influenciado pelo saneamento básico. A primeiríssima infância precisa de saúde para o cérebro se desenvolver. Em uma realidade onde 45% das crianças menores de 14 anos vivem em domicílios sem coleta de esgoto, o que esperar? “, questionou.

Gianetti ressaltou que somente 30% dos municípios brasileiros cumpriram a exigência de apresentar o Plano Municipal de Saneamento. “As cidades, em geral, não têm capacitação técnica e financeira para implementar as metas dos planos municipais”, disse. Giannetti também destacou a importância da iniciativa privada para a implantação dos serviços de infraestrutura. Segundo ele, com a instituição de marcos regulatórios, a iniciativa privada fará investimentos importantes para o desenvolvimento do país.

Giannetti afirmou ainda que o Brasil está na eminência de entrar em um quadro depressivo e lembrou que o país está muito defasado em relação ao que aconteceu no resto do mundo nas últimas décadas. Uma das soluções apontadas por ele é a implantação de mudanças urgentes na gestão fiscal de modo que o dinheiro público arrecadado seja gasto pela região que o gerou. “O governo central deve diminuir de tamanho para que o povo brasileiro disponha de uma melhor prestação de serviços públicos nas localidades. É preciso investir e cobrar dos usuários pela manutenção e pela qualidade dos serviços implantados para que possamos ter um crescimento sustentável”, sentenciou.

 

Universalidade

O jornalista Fernando Gabeira salientou a necessidade de se pensar na água associada ao saneamento básico. “A água que jogamos fora não é necessariamente uma água sem aproveitamento. Achamos que o Brasil é um país de muita água, mas quando olhamos de perto vemos que a distribuição pelo pais não é ideal e não podemos contar com a abundância. Estamos vivendo também momentos especiais com o clima, com eventos extremos, o que traz a necessidade de trilhar um caminho para fazer frente a esse processo. O Brasil perde muita água que precisa ser controlada. Temos que investir muito na infraestrutura e manutenção do sistema para evitar as perdas”, ressaltou.

Gabeira lembrou que no Brasil a falta de água está intimamente ligada ao assoreamento permanente, à falta de proteção das matas ciliares, à carência em saneamento básico e a ausência de uma política que garanta o abastecimento de água e o saneamento universais. “Considero a falta de saneamento uma das grandes falhas da política brasileira. Temos um país planejado pelas grandes empreiteiras e não pela necessidade do povo. Fazer saneamento não rende votos nas eleições”, enfatizou.

Segundo Gabeira, tributos pagos pelo uso da água devem existir e serem totalmente revertidos para a recuperação das bacias hidrográficas e manutenção dos rios brasileiros. “É ilusão pensar que se a chuva cair, o problema hídrico fica resolvido. A política sobre os recursos hídricos é importante para garantir o abastecimento e a igualdade de todos ao acesso a este bem fundamental para a vida”, destacou.

O jornalista lembrou também a associação da água com a geração de energia elétrica, citando os vários problemas sociais e ambientais ocasionados pelas hidroelétricas. “Essa convergência da água como produtora de energia precisa ser replanejada no Brasil”, afirmou.

 

Futuro

Segundo Gabeira, há vários pontos no Brasil onde já existem organizações criadas para desenvolver ações de proteção aos rios, o que mostra que a consciência de que os rios são um tesouro, está aumentando. “A água é preciosa e precisamos economizar e tratá-la com seriedade, realizando também investimentos na recuperação da nossa infraestrutura, o que significa uma tarefa gigantesca.  Se tivermos o amanhã, será de muito trabalho e a tarefa inicial é resolver os problemas hídricos”.

De acordo com ele, a consciência chega pelos fatos históricos que vão surgindo e avançando. “As epidemias do mosquito Aedes, por exemplo, nos levam a refletir sobre o saneamento e as condições sanitárias do país. Temos três epidemias simultâneas e precisamos compreender que, se chegamos a esse ponto, é porque estamos em situação delicada. É o momento de refletir e redirecionar o país para outro caminho”, salientou.

A tendência, para Gabeira, é de que a água seja o centro dos conflitos no século 21. “Não só a situação dos rios, mas também a do mar do Brasil está caótica com destruição dos corais e com a grande quantidade de lixo depositado nas águas. “A saída pode ser tecnológica. O processo de dessalinização pode ser importante para atenuar as dificuldades, mas as grandes batalhas são culturais e mentais. Temos que superar a sensação de que a água nasce de uma magia. O compromisso de todos deve ser com a preservação do Planeta”, concluiu.